Meu sogro foi convocado para lutar na II Guerra Mundial. Sempre soube do fato, ele pouco comentava o assunto e nós por respeito e eu, por total inabilidade em abordar o assunto, nunca fiz perguntas a respeito. Homem de sorriso largo, muito organizado, trajetória pessoal e profissional ilibada, permitiu-me outras conversas, conhecer outras histórias. Poucas coisas ele dividiu sobre a guerra, as vezes uma música em italiano o emocionava, as vezes uma reportagem, o nome de um amigo. Guardou para si histórias dignas de um livro. Após seu falecimento, deparamo-nos com um objeto que o acompanhou nessa difícil viagem e que guardamos por estima, uma caixinha de jogo de xadrez.
Tenho refletido sobre as dificuldades que viveram nossos pais e como as enfrentaram. Reflito sobre como temos atravessado esses anos recentes. Esses dias peguei a caixinha, observei a tampa onde meu sogro anotou datas marcantes e fiquei imaginando a trajetória desse jovem estudante de engenharia, convocado para a Itália. Senti a angustia da partida, do desconhecido, o medo. Percebi a euforia na palavra VITORIA - era o final da guerra. Você consegue imaginar a alegria de escrever a data de chegada ao Brasil? Marcos que fez questão de registrar. Estratégia de sobrevivência? Forma de encorajar-se? Nunca saberei, mas percebo que preciso escrever os marcos vivendo as etapas que preciso viver, sem “pular fases” e acontecimentos que me levam a crescer.
Nesse ano de tantas convicções abaladas, desafio você a rever sua história e decidir que as incertezas não irão parar a sua trajetória, mas sim ajudá-lo na tomada de decisões com mais sentido para a jornada valer a pena.
Comentários
Postar um comentário